Luz e Escuridão: A Relação entre Kunikida e Dazai

Todos sabemos o quanto o Kunikida se irrita com o comportamento do Dazai, mas acredito que, na verdade, ele tem uma grande admiração por ele e por suas habilidades. Isso fica evidente em algumas falas presentes na light novel sobre o exame de admissão do Dazai.

Com o tempo, acho que Kunikida passou a se importar genuinamente com o Dazai. Apesar de não conhecer muito sobre seu passado, ele reconhece a genialidade do parceiro e se impressiona com suas capacidades. Essa admiração, entretanto, é frequentemente mascarada pela forma desorganizada e “incompetente” com que Dazai age, o que faz Kunikida, inicialmente, subestime-o. Isso se deve, em grande parte, às enormes diferenças entre suas personalidades e ideais.

Um exemplo claro dessas diferenças é visto no final do arco do Terrorista Azul, onde eles discutem sobre o conceito de justiça. Foi uma das melhores discussões entre eles, na minha opinião. Kunikida, como sabemos, é um idealista que acredita que a justiça é imparcial e que é possível ajudar aqueles que precisam, promovendo liberdade e igualdade. Essa perspectiva reflete não apenas seus ideais, mas também parte de seu passado — sabemos que ele foi professor de matemática, o que, junto com sua crença na ordem social, revela sua visão otimista sobre o potencial humano e sua fé na mudança por meio da justiça.

Dazai, por outro lado, cresceu na máfia e viu o lado mais sombrio da humanidade desde muito cedo. Seu conceito de justiça é muito mais pragmático e cínico. Para ele, “a justiça é uma arma. Ela pode ser usada para ferir, não para proteger ou salvar.” Ele entende os ideais de Kunikida como inalcançáveis e acredita que essa busca incessante só levará Kunikida à frustração e ao sofrimento quando ele inevitavelmente se deparar com a verdadeira natureza humana.

Ainda assim, é impressionante o quanto eles se aproximaram rapidamente. Eu acredito que as diferenças entre suas personalidades foram justamente o que fortaleceu essa conexão. Existe uma admiração mútua e uma necessidade quase instintiva de compreender um ao outro. A cena da arma é um exemplo perfeito disso — foi um momento que me deixou sem palavras. Talvez o Dazai já tivesse previsto tudo, como costuma fazer, mas, mesmo assim, entregar a arma foi um ato enorme de confiança. Não havia garantias, mas, mesmo não acreditando nos ideais de Kunikida, Dazai parecia acreditar no próprio Kunikida e em sua integridade, sabendo que ele não trairia seus princípios.

Confiança e Dazai na mesma frase? Parece até estranho, considerando o quanto é difícil para ele confiar em alguém. Então, o que fez com que ele confiasse no Kunikida tão rapidamente? Será que os ideais de Kunikida o lembraram de Oda? Talvez ele visse Kunikida como a luz e a si mesmo como a escuridão? Pode ter sido instinto? Não acho que seja o caso, porque Dazai raramente age por instinto.

Ele realmente não se importava com a possibilidade de morrer? Provavelmente não, já que ainda não tinha cumprido sua promessa a Oda. Mas, mesmo assim, ele escolheu confiar no Kunikida, o que, para mim, é um ato enorme de admiração e respeito.

Em poucas semanas, eles já conseguiam se comunicar sem palavras e tinham construído uma confiança mútua impressionante. A cena da arma é um símbolo disso — talvez Dazai tenha calculado tudo, mas foi, acima de tudo, um gesto de confiança. Ele sabia que, mesmo se não acreditasse nos ideais de Kunikida, poderia confiar no homem por trás deles.

Isso nos leva à questão: por que Dazai confiou tão rápido? Será que Kunikida realmente o lembrou de Oda? Ou foi algo mais profundo, como uma percepção de que Kunikida era diferente, alguém em quem ele poderia depositar sua fé, mesmo que temporariamente? Seja qual for o motivo, o ato em si foi um dos momentos mais marcantes e belos dessa relação, mostrando o quanto a admiração e a confiança podem surgir, mesmo entre pessoas tão diferentes.