Sobre ser uma pessoa ausente
Um relato sobre ter ansiedade social e sempre querer ficar só
Como disse Clarice Lispector uma vez:
“Perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova da "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.”
Sempre gostei de ficar sozinha, eu cresci sozinha, sou filha única e perdi minha mãe muito cedo, sou tímida e introvertida então nunca tive muitos amigos. Acho que pelas circunstâncias que minha vida tomou, eu fui levada a encontrar um certo conforto na solidão.
A socialização sempre foi um aspecto que sempre precisou de muito esforço da minha parte, algo que sempre pareceu natural para todos ao meu redor, mas, para mim era torturante, e isso é um saco porque afinal o ser humano é um ser social e vivemos em uma sociedade. É necessário, você precisa sair do seu quarto, você precisa conhecer pessoas novas, manter relacionamentos antigos para ter uma boa saúde mental e uma boa vida, pelo menos é isso que todos dizem, e eu concordo, eu apenas preciso me esforça mais para conseguir.
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É isso que eu sempre me digo, mas, de uns tempos para cá eu descobrir uma realidade difícil, quando percebi que mesmo que eu me esforce muito nunca vai ser natural para mim com é para eles. O que para mim foi um grande feito, uma grande evolução, para o resto das pessoas foi uma simples sexta à noite que todos saíram juntos para relaxar. Foi algo banal, algo cotidiano e não importa quantos anos de terapia eu faça para mim nunca será natural.
Isso é tão patético não é? eu me sinto patética, eu não me sinto humana, me sinto sempre frustrada e com raiva.
De uns tempos para cá eu acho que genuinamente eu melhorei. Ainda estou longe do ideal, mas subi alguns degraus. Porém eu frequentemente me perco nas minhas fantasias de todas as pessoas que eu poderia ser ,mas não sou. Penso em como minha vida seria se eu fosse qualquer outra pessoa, menos eu. Constantemente me comparo com as pessoas ao meu redor, sinto inveja delas e raiva de mim mesma. Todos os dias me vejo presa na minha mente, lidando com um turbilhão de pensamentos.
“Quero ficar só. Gosto muito das pessoas mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim.”
Lygia Fagundes Telles
Acho que encontrei um certo conforto em estar sozinha. São nesses momentos que minha mente finalmente me dá um pouco de paz. Afinal, não preciso me preocupar em como contribuir para uma conversa, se falei demais ou de menos, se todos ao meu redor acham que sou uma idiota, nem fico me comparando com ninguém. Posso simplesmente relaxar e fazer minhas pequenas coisas: ler um livro, assistir a filmes ou séries, ou até me deitar na cama vendo TikToks. É a única forma que realmente consigo recarregar minhas energias.
Consigo passar longos períodos assim, sem interagir com ninguém ou ter contato com o mundo exterior. Mas, por algum milagre do universo, tenho amigos — pessoas incríveis que, por alguma razão, se importam comigo. É até meio cômico, porque a maioria deles é extremamente sociável e adora contato. Por isso, muitas vezes me sinto mal por não conseguir retribuir o carinho que eles me dão.
Infelizmente, sou uma pessoa ausente. Não consigo sair com frequência, demoro para responder mensagens, e algumas redes sociais, como o Instagram, eu praticamente não uso, pois só pioravam minha ansiedade. Também não sou o tipo de pessoa que fala sobre o que está sentindo ou o que a incomoda. Eu me considero uma boa ouvinte, mas uma péssima contadora de histórias. Como eu poderia explicar algo que nem eu mesma entendo?
“Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente aconchego das pessoas.”
Clarice Lispector
Ainda assim, estou trabalhando nisso dia após dia. Acho que todos nós estamos, de alguma forma, tentando ser pessoas melhores e nos esforçando mais. Essa é a jornada, não é?
Espero que, escrevendo mais sobre os meus pensamentos e o que sinto eu possa me entender melhor, então até mais com mais textos sobre minha existência patética :)
eu sou uma pessoa ausente e não é todos que entendem isso, mas sou grata pelas pessoas q me entendem e respeitam meu jeito de ser, q não me cobram pra ser um alguém q eu simplesmente não sou
Você conseguiu colocar em palavras o que sinto... é difícil explicar o desconforto de ser uma pessoa ausente. Eu não sou uma pessoa ruim, apenas não consigo me relacionar ou socializar como os outros.